Friday, October 31, 2008
Pena Leve
Numa condução cautelosa mas embriagada pela beleza da natureza circundante, percorria a auto-estrada da perfeição. As curvas não eram abundantes, e por isso não o arrancavam do idílio da visão das colinas e campos de milho que corriam ao seu olhar. Conseguia sentir a brisa que entrava pelo vidro lateral, e o cheiro das flores selvagens.
Um vulto negro desperta-o do sonho acordado. É um homem numa mota: um polícia. Quebra-se toda a beleza, porque ele o manda encostar na berma. Agora, quando menos convém, eis que surgem duas curvas de seguida. Só consegue parar depois das mesmas. Então, o vulto aproxima-se calmamente como que a dar-lhe tempo de preparar-se para o flagelo.
Mas, o vulto falava numa língua estranha! Ele não entendia nada. Quando conseguiram encontrar uma língua que ambos dominassem, o vulto acusa:
Apercebeu-se do que acabou de fazer?
O quê?
Não fez pisca!
Oh…eram duas curvas seguidas…esqueci-me…
O polícia olhava-o possesso pela resposta sincera. Então, tira um saco e diz:
Bem, como é uma infracção leve, escolha aqui um verniz destes e pinte uma unha. Assim, cada vez que a ver pintada, lembra-se da sua infracção…
Ele embaraçado escolhe o verniz, e quando vai pintar uma unha diz:
Oh, já tenho uma pintada! Deve ter sido a minha namorada…já agora aproveito e pinto por cima!
Por um sonho que deve ser recordado…;)
Thursday, October 23, 2008
Wednesday, October 22, 2008
A repetição
Não há caminho alternativo. É seguir em frente,sempre,sempre...Quando te apercebes estás de volta ao mesmo lugar. Mas, se calhar é melhor voltar a fazer o mesmo, porque afinal podes ter-te enganado, ou não ter visto um atalho ali,uma saída acolá.
Começas então a abrir uma enorme vala no chão, de tanto andares às voltas. Uma vala comum, em que o comum são as vezes que passas por ali. As gotas de suor parecem competir entre si para ver qual escorre mais depressa pelo teu semblante pesado, e a roupa cola-se ao teu corpo arqueado e cansado, numa aparente conspiração para travar-te os movimentos.
E lá continuas...à espera que se faça o tal caminho alternativo que te permita sair da vida elíptica.
Começas então a abrir uma enorme vala no chão, de tanto andares às voltas. Uma vala comum, em que o comum são as vezes que passas por ali. As gotas de suor parecem competir entre si para ver qual escorre mais depressa pelo teu semblante pesado, e a roupa cola-se ao teu corpo arqueado e cansado, numa aparente conspiração para travar-te os movimentos.
E lá continuas...à espera que se faça o tal caminho alternativo que te permita sair da vida elíptica.
Tuesday, October 21, 2008
Wednesday, October 15, 2008
Monday, October 13, 2008
Os bons
A bondade não é terrena. A beleza é efémera. Há um lugar para a perfeição, e esse não está ao alcance de qualquer um. Só os bons vão...
Se for perfeito não pertence a este lado. Tem de ser subtilmente (ou não)"transferido" para a luz...Ficar entre os comuns mortais impregna-lhes o ser da nossa sujidade humana.
Não sabemos lidar com a perfeição quando em demasia. Mas mesmo assim, os portadores dessa bondade, dessa perfeição, são sempre desejados com o mais puro sentimento humano, e deixam sempre grande mágoa em nós que mendigamos por um pouco daquela excelência.
Para que não imponhamos a nossa presença e lhe tomemos o brilho, um ser etéreo não pisa por muito tempo este chão...
Se for perfeito não pertence a este lado. Tem de ser subtilmente (ou não)"transferido" para a luz...Ficar entre os comuns mortais impregna-lhes o ser da nossa sujidade humana.
Não sabemos lidar com a perfeição quando em demasia. Mas mesmo assim, os portadores dessa bondade, dessa perfeição, são sempre desejados com o mais puro sentimento humano, e deixam sempre grande mágoa em nós que mendigamos por um pouco daquela excelência.
Para que não imponhamos a nossa presença e lhe tomemos o brilho, um ser etéreo não pisa por muito tempo este chão...
Thursday, October 9, 2008
Wednesday, October 8, 2008
Nuvem de Outono
Se eu pudesse, percorria o mundo numa nuvem. Pousaria em cada montanha e beberia as gotas do orvalho. As borboletas e os flamingos seriam a minha mais constante companhia.
Cada maravilha terrena seria observada minuciosamente pelos meus olhos sedentos da sua beleza.
A chuvosa monção seria uma bênção que me transportaria até à terra poeirenta, em pequenas gotículas que iam amainando o pó confrangedor.
Mas, cada Outono vermelho que chegasse, traria consigo a nostalgia da visão longínqua das folhas caídas pelo chão, e dos casacos quentes oferecidos no ano anterior. Porque a vida é mesmo aqui em baixo, a pontapear folhas e frutos secos, e a fugir à chuva que estraga o penteado e molha os sapatos novos!
Quem sabe se num avião a viagem pelo mundo não seria mais confortável? Mas a vista a partir da nuvem não…essa seria única!
Wednesday, October 1, 2008
Prisão dos Sentidos
Eu não sou eu.
Sou um corpo que age por vontade própria, indiferente ao que acontece à volta. Sou um corpo preso a uma cadeira, sem conseguir levitar.
Sou uma prisão ambulante, retida sempre dentro dos mesmos pontos quilométricos.
Sou uma casa que tenta manter abertas as suas janelas para o mundo, mas uma força superior pesa-lhes, forçando-as gradualmente a fechar-se e a afundar todos os cantos na escuridão.
Sou uma sala acusticamente isolada, que não ecoa os sons do bater das asas das borboletas e o murmurar das formigas.
Sou uma crisálida que não sente os odores do mundo que aguarda a sua transformação. Sou um perfume impregnado de si mesmo!
Sou uma constipação teimosa que não saboreia os profiteroles!
Sou a Lua que estende os dedos brancos para o mar,mas não o sente a sua frescura...
Sou um corpo que age por vontade própria, indiferente ao que acontece à volta. Sou um corpo preso a uma cadeira, sem conseguir levitar.
Sou uma prisão ambulante, retida sempre dentro dos mesmos pontos quilométricos.
Sou uma casa que tenta manter abertas as suas janelas para o mundo, mas uma força superior pesa-lhes, forçando-as gradualmente a fechar-se e a afundar todos os cantos na escuridão.
Sou uma sala acusticamente isolada, que não ecoa os sons do bater das asas das borboletas e o murmurar das formigas.
Sou uma crisálida que não sente os odores do mundo que aguarda a sua transformação. Sou um perfume impregnado de si mesmo!
Sou uma constipação teimosa que não saboreia os profiteroles!
Sou a Lua que estende os dedos brancos para o mar,mas não o sente a sua frescura...
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