Wednesday, November 26, 2008

Pequena


Ficou parada com um sorriso forçado nos lábios rosados, tentando segurar a saudade numa lágrima. O seu pequeno coração parecia poder explodir a qualquer momento, tal era a agonia ao sentir que as gargalhadas se despediam ao virar da esquina.
Mas, sorria sempre, como se os seus poucos anos de vida a tivessem preparado para tudo. Nas suas mãozinhas fechadas, guardava as brincadeiras e os abraços dados, para mais tarde olhar para elas e finalmente poder deixar escorrer aquela lágrima que teimava em sair dos seus olhos tristes. Queria ser forte, como se soubesse que a sua dor ia ser pungente, que as suas lágrimas iam despedaçar-me…
Esperou até deixar de ver as faces que a olhavam com surpresa, e então pôde chorar. Chorou pelo que tinha vivido, e pelas ausências que iam rodeá-la dali em diante.
É uma adulta a viver no corpo de uma menina...

Ich habe noch nie ein Mädchen so mutig... (?)--> Fiz um esforço :)

Friday, November 21, 2008

Existência vazia

Escorregou para dentro do nada. Cada recanto estava cheio de vazio e de ecos. Não podia erguer-se porque a cabeça pesava mais que o próprio corpo, e sentia-se prostrado num chão frio e áspero. Ouvia o rolar das lágrimas que iam formando uma pequena poça de impossibilidades e frustrações.
Não conseguia abrir os olhos, não conseguia gemer…Não havia qualquer lógica na sua existência vazia e travada pelo corpo inerte.
A dormência enfim viria encher de abstracção cada pedaço seu, e poderia enfim deixar de ouvir os ecos de vozes tristes.

Monday, November 17, 2008

Sozinha


Ficou sozinha. Depois de todos terem derramado alguma lágrima que não puderam conter, foram embora de cabeça baixa e sem olhar para trás.
Então a chuva veio, levou para o chão os últimos resquícios de pó e abafou por instantes o cheiro das flores,da dor e da perda.
Todos partiram porque ninguém queria imaginar como devia ser estar ali, porque aquele não era o lugar dela. Nunca será o lugar de ninguém de quem se gosta.
A chuva partiu com a mesma placidez com que apareceu. As borboletas pousaram na terra molhada e remexida, e ouviram-se os pássaros a cantar quebrando o silêncio que se fez depois do choro.
Estava sozinha...por muito tempo.

Thursday, November 13, 2008

Quando...


Quando o dia acabar e a noite não se despedir.
Quando nem os mochos se regozijam pela escuridão eterna e os cágados não sabem por onde vão.
Quando os grilos enfim cessam o seu cântico monótono e repetitivo, e não há andorinhas a voar em rasante.
Quando a água já não escorre límpida e fresca, e as frutas apodrecem ainda nos ramos que lutam para não as deixar cair no solo pútrido.
Quando já não formos mais que seres esquálidos e sem rumo, e o outro não significar mais que um corpo abjecto e inconveniente.
Quando este dia chegar, saberemos que estamos na direcção do fim.

Wednesday, November 12, 2008

Um link...inconveniente

Ontem havia no Sapo uma notícia sobre Barack Obama. O título era “Obama é jovem, bonito…e bronzeado”,pelo que presumi que o artigo fosse a criticar o comentário de Sílvio Berlusconi. Quando carreguei no link que me levaria à visualização do texto, eis que me deparo com uma notícia sobre castanhas…Acabou por ser um "trocadilho" interessante… :)

P.S. Não houve qualquer maldade neste meu texto!;)

Tuesday, November 11, 2008

A escuridão do dia

Não me sinto em mim. O dia revela-se estranho, como se estivesse num sonho, com a sensação angustiante de estar acordada.
Neste dia noto-me a ser arrancada da realidade, mas esta espécie de movimento afigura-se num prenúncio de algo belo que se avizinha. Não consigo é perceber o quê.
O que sei é que cada inspirar impregna-me o corpo de sol e de dias longos. De correrias por entre o milho alto, de gargalhadas e de abraços…
Não me sinto em mim, porque me sinto a correr por entre o milho num dia solarengo, com os pássaros a cantar e o ruído de pequenos passos ao meu lado. Não estou em mim, aqui sentada, na escuridão do dia que ainda não acabou, mas que para lá se encaminha…